A Riesling é uma variedade de uva branca de grande importância para a história da enologia. Original da Alemanha, é cultivada nos vales do Mosel e Reno desde o Império Romano. Até os dias de hoje, é a Alemanha a principal produtora dessa casta. É de lá que vem os mais icônicos exemplares dessa uva. Seguido por Alsácia, no leste da França, e a Áustria.
É uma uva de cultivo lento, com brotação e maturação tardia. Pode sofrer com chuvas que afetam diretamente a sua qualidade. Se adapta fácil a diferentes solos e climas, mas se dá melhor em regiões com temperatura de moderada a frio, desenvolvendo um caráter aromático profundo. Resiste bem a invernos rigorosos. Em regiões de clima muito quente, a maturação é acelerada, fazendo com que a uva perca acidez e delicadeza.
Considerada uma das melhores castas para a elaboração de vinho branco, a Riesling tem um caráter aromático muito singular, que a diferencia de todas as outras cultivares e a torna facilmente reconhecível. É importante salientar que a Riesling e a Riesling Itálico não são a mesma uva.
Como são os vinhos de Riesling
A Riesling é uma uva bem versátil, originando vinhos dos mais diferentes estilos: seco, meio seco, doce e até espumante. Essa versatilidade se dá muito pela alta concentração de acidez presente na casta, que tem capacidade de produzir açúcar sem perder a acidez. Os vinhos tendem a ter teor alcoólico baixo e, os de qualidade superior, são aptos para envelhecer por décadas.
O clima onde a uva é cultivada interfere diretamente nas características do vinho final. Em região de clima frio, os vinhos tendem a ser mais delicados, com teor alcoólico baixo e aromas de frutas cítricas, como maçã verde e lima, jasmim e um toque salino. Já em áreas mais quentes, o vinho é mais encorpado, com aromas de frutas tropicais e de caroço, como abacaxi, pêssego e damasco. Não é aconselhável o estágio em barris de carvalho para não mascarar os aromas. Diferente da Chardonnay, que se beneficia muito com o envelhecimento em madeira. Aproveite, e leia aqui na Escola do Vinho do Rerserva85 sobre a Chardonnay. branca
Como é uma uva que tem grande concentração de açúcar e também é suscetível à podridão nobre (ataque do fungo Botrytis Cinerea ), gera vinhos de sobremesa de alta qualidade. No Canadá, o raro Icewine, vinho de sobremesa feito com uvas congeladas pelo frio ainda no pé, é elaborado com Riesling. Clica aqui e conheça mais sobre os vinhos de sobremesa. Por aqui, a produção é quase toda destinada para vinhos secos.
Os aromas da Riesling
O caráter aromático da Riesling é um ponto de importância: os aromas são muito intensos, complexos e ricos. Há uma mistura de famílias aromáticas, como flores, frutas e vegetais, além de nuance mineral. Mas o que chama atenção – e a torna inconfundível – é o cheiro de gasolina que exala.
Essa característica vem do TDN (1,1,6-trimetil-1,2-dihidronaftaleno), um composto aromático natural presente em folhas, sementes, frutas e flores que dá o aroma químico relacionado ao petróleo, gasolina e querosene. No caso da Riesling, esse composto aparece em maior quantidade que outras uvas (uvas brancas têm, em média, 1,4 micrograma por litro; a Riesling apresenta 6,4 microgramas por litro de TDN).
Conheça também a Cabernet Sauvignon, uma uva tinta que tem o específico aroma de pimentão e que gera excelentes vinhos.
Quando a videira é exposta à temperatura elevada ou ao estresse hídrico (a videira tem acesso a menos água do que necessário), o TDN ganha intensidade. Os vinhos de Riesling com mais idade tendem a ter o aroma de petróleo bem marcado, pois, com o passar do tempo, os aromas de frutas e flores ficam mais moderados, deixando o caráter químico em evidência.
Harmonização dos vinhos Riesling com comida
A Riesling é uma uva com acidez elevada, muito aromática e, muitas vezes, com certo açúcar residual. Essas características fazem de seus vinhos acompanhantes ideias para comidas condimentadas, picantes e agridoces, como pratos da culinária mexicana, indiana e tailandesa. O sabor intenso de frutas ajuda a minimizar a percepção de pimenta, sal e condimentos.
Como frituras por imersão em óleo pedem por vinhos com acidez alta, o Riesling é perfeito para acompanhar essas receitas, como pastel, bolinhos (arroz, carne, peixe, bacalhau), acarajé, coxinha, risólis. O baixo teor alcóolico e o elevado sabor frutado, permitem até uma pimentinha para temperar.
Carne de porco, no geral, combina bem com Riesling. Salada de repolho, maionese de batata, salpicão de frango, também são boas pedidas. Já o Riesling de sobremesa casa perfeitamente com apfelstrudel, torta de maçã, pêssego em calda, damasco seco ou ainda com queijos salgados e azuis.
Leia sobre a Merlot, uma uva que teve uma ótima adaptação ao terroir da Serra Gaúcha.
Uma boa dica é criar uma harmonização regional, ou seja, escolher receitas originárias da mesma região em que a uva surgiu. Sendo assim, apostar em pratos da culinária austro-alemã funcionará muito bem. Como por exemplo:
Cachorro-quente, a versão brasileira do Currywurst
Joelho de Porco – o famoso Eisbein
Steak tartare – conhecido na alemanha como Hackepeter
Bife à milanesa – o popular Schnitzel
*Artigo publicado originalmente no blog Salton por Paula Daidone