O vinho de talha é uma técnica vinícola ancestral que remonta à ocupação romana na região do Alentejo, Portugal. Caracterizada pelo uso de grandes recipientes de barro – as talhas – para a fermentação e armazenamento do vinho, essa prática mantém-se viva em algumas vinícolas, representando um legado cultural e histórico significativo para a viticultura alentejana.
Como é o vinho de talha
O vinho de talha é puros, com sabor intenso de frutas e uma mineralidade única, adquirida pelo contato prolongado com o barro das talhas. Esses vinhos também tendem a apresentar notas oxidativas, que remetem a nozes e frutas secas, conferindo complexidade e profundidade aos rótulos.
Uma das principais características do vinho de talha é o seu perfil rústico e natural. É comum esses vinhos serem fermentados com leveduras nativas e com as cascas da uva e engaços da videira. O contato prolongado com as massas sólidas durante a fermentação e maturação confere aos vinhos maior estrutura e intensidade aromática.
O vinho de talha apresentam um caráter levemente oxidativo, por conta da porosidade da talha. Que é outro ponto que contribui para a singularidade dos vinhos de talha. Essa micro-oxigenação natural proporcionada pela porosidade do barro ajuda a estabilizar o vinho e a desenvolver complexidade aromática, sem a interferência de barricas de madeira ou aço inox, preservando o caráter puro da uva e do solo.
Nos vinhos tintos de talha, é comum encontrar notas de frutas vermelhas e negras maduras, especiarias, e um toque terroso característico do barro. Esses vinhos tendem a ser encorpados, com uma acidez equilibrada, taninos firmes e uma profundidade de sabor que reflete a fermentação lenta e o manejo manual do processo.
Já o vinho de talha brancos se desta por sua mineralidade e frescor. Mesmo fermentados em contato com as cascas, eles mantêm uma acidez vibrante e costumam ter aromas de frutas cítricas, pêssego e flores brancas, além de nuances herbáceas e salinas. O contato prolongado com as peles das uvas confere a esses brancos uma textura cremosa e uma cor que pode variar do dourado claro ao âmbar, muitas vezes com um perfil que lembra os vinhos laranjas.
Um estilo curioso que pode surgir do vinho de talha é o “petroleiro“, um rosé rústico resultante da mistura de uvas tintas e brancas. Esse vinho apresenta uma cor rosada intensa, com sabor robusto e marcante, e é uma verdadeira expressão da vinificação tradicional do Alentejo.
Como são produzidos os vinhos de talha?
O processo de vinificação do vinho de talha é bastante particular. Após a colheita, as uvas, sejam elas brancas, tintas ou uma mistura das duas, são esmagadas e colocadas nas talhas. A fermentação ocorre de forma espontânea, com o auxílio de leveduras indígenas presentes nas próprias uvas e no ambiente.
A fermentação dura entre 8 a 15 dias, em temperatura entre 17º e 18ºC, conseguida através do resfriamento da talha com água. Durante a fermentação, as partes sólidas da uva, como cascas e sementes, flutuam para o topo, formando o que é chamado de “chapéu”. As massas sólidas, que atuam como filtro natural para o líquido, é mergulhado manualmente no líquido duas vezes ao dia com um instrumentos de madeira. Isso garante que o mosto (suco das uvas) mantenha contato com as cascas, conferindo cor, sabor e estrutura ao vinho.
Após o término da fermentação, que dura em média duas semanas, o vinho é deixado para descansar dentro da talha, muitas vezes até o Dia de São Martinho, celebrado em 11 de novembro. Nessa data, há uma festa tradicional chamada “Abertura das Talhas”, que marca o momento em que o vinho é retirado da talha para consumo ou engarrafamento.
As talhas, feitas de barro poroso e capazes de armazenar até 2.000 litros de mosto, eram tradicionalmente impermeabilizadas com resina de pinheiro, um processo artesanal transmitido por gerações de “pesgadores”. Este método confere ao vinho características únicas, preservando a autenticidade e a tradição da produção de vinhos na região.
No Alentejo, o uso das talhas de barro é tão importante que o processo foi mantido ao longo dos séculos, com poucos ajustes. Cada vinícola ou localidade adota variações no método, dependendo da tradição local.
No site da CVR do Alentejo é possível conhecer bem detalhadamente todo o processo de produção do vinho de Talha.
