Entrevista: Giovanna Lancellotti por Paula Daidone
Ultimamente, só dá ela! Giovanna Lancellotti é a protagonista de “O lado bom de ser traída“, o filme em língua não-inglesa mais visto no mundo na Netflix. Em dez dias, o longa atingiu mais de 20 milhões de espectadores na plataforma.
A atriz é uma apaixonada declarada por vinho e agora seu hobby, está se tornando uma ocupação. Junto com sua mãe, Giovanna está produzindo o próprio vinho. O projeto está sendo desenvolvido no sitio da família, na Serra da Mantiqueira, e em torno de dois anos o mercado irá conhecer o rótulo pensado pela atriz.
Giovanna Lancellotti encontrou um tempinho em sua atribulada agenda para responder algumas perguntinhas de Paula Daidone sobre sua relação com o vinho, o início do projeto e planos para o futuro.
Entrevista com Giovanna Lancellotti e sua paixão por vinhos
Como começou sua relação com o vinho?
Desde que eu sou pequena, que eu me entendo por gente, o vinho faz parte da minha família. Lembro da minha família ter o hábito de abrir um vinho à noite, assistindo televisão e conversando sobre o dia. Então é claro que quando eu cresci, também adotei esse hábito. Criamos um momento nosso, um momento à noite em que abríamos um vinho e falávamos sobre o nosso dia, os sonhos e os desejos.
Como surgiu a ideia de produzir o próprio vinho?
O vinho sempre esteve muito presente na nossa rotina e quando eu e minha mãe resolvemos empreender, levamos muito em conta essa nossa relação. O fato de termos um um sítio na Serra da Mantiqueira também foi determinante. Há sítios na região que produzem vinhos de muito boa qualidade, o que nos inspirou muito a seguir com esse projeto. A Serra da Mantiqueira é uma região muito rica em diversas produções, como leite, queijo, azeite e o próprio vinho. É um lugar com diversos pequenos produtores.
Qual o estilo de vinho que vocês estão produzindo?
Estamos trabalhando no rótulo Lancellotti, um vinho sofisticado, elaborado com a uva Syrah, a mais fértil ali na nossa região. Temos um enólogo que está sendo o nosso professor e nos direcionando em tudo. Na plantação, na poda, na colheita, enfim, está nos ajudando em todo esse processo, que é longo.
Você tem o costume de beber vinho brasileiro?
Eu costumo sim beber vinho brasileiro. Adoro conhecer vinhos novos e acho que o Brasil é um grande produtor. Eu vou citar esse vinho, que é inclusive vizinho do nosso sítio, da mesma região. Um vinho delicioso, que foi premiado agora. Tanto o tinto quanto o branco são maravilhosos. Guaspari. Vale muito a pena. Um vinho delicioso, que eu amo. Espero que o nosso vinho fique com a qualidade similar.
Como você escolhe o vinho que você vai beber?
Escolho o vinho pela uva, mas também por alguma indicação. Gosto de saber de onde vem, dou uma pesquisada. Hoje em dia tem vários aplicativos onde você coloca o nome e já vem toda a descrição. Assim a gente vai conhecendo outros tipos, mas normalmente eu escolho pela uva que gosto mais.
Você tem algum ritual?
Não tenho um ritual na hora de abrir os vinhos, mas eu guardo 90% das rolhas dos vinhos que eu consumo em um baú que a minha mãe me deu. Eu escrevo a data e o nome da pessoa com quem eu bebi o vinho.
E algum momento preferido para abrir um vinho?
Eu não tenho um momento que é indispensável, mas tem várias coisas na minha rotina em que eu encaixo uma taça de vinho. Por exemplo, quando estou lendo o roteiro de um filme novo, sozinha. Essa taça vai me inspirando de uma forma diferente, eu vou saboreando tanto o roteiro quanto o vinho, de maneiras diferentes. Eu adoro tomar vinho lendo o meu texto, estudando e compondo um personagem. Acho que ajuda a me inspirar. Me pego falando sozinha, mudando o olhar.
O vinho faz parte de suas viagens?
Eu adoro viajar e experimentar os vinhos locais e acabo me surpreendendo muito. Por exemplo, quando eu fui pra África do Sul eu não sabia que os vinhos de lá eram tão maravilhosos. Eu já sabia que havia algumas vinícolas famosas, mas não imaginava que eu iria me surpreender tanto. Fiz algumas visitas a vinícolas por lá e saí encantada, pelo dia de experimentação, super diferente de tudo que eu já tinha vivido. Lugares lindos, cheios de obras de arte, com vinhos com uma qualidade impecável e super gostosos. Inclusive eu tenho garrafas até hoje dessa viagem, que eu guardo como se fosse ouro para eu abrir em momentos especiais. Agora, por exemplo, eu estava na Itália e bebi muitos vinhos italianos. Eu gosto muito de embarcar na cultura local. E eu gosto muito de viajar, então isso sempre faz parte do meu roteiro.
Você tem uma conexão especial com o vinho, né?
Eu tenho sim essa ligação. Para mim, o vinho jamais será uma bebida como outra qualquer. O vinho me voltou a um lugar artístico manual, principalmente durante a pandemia, quando eu fiquei oito meses na minha cidade, com a minha família. Nesse período, eu comecei a pintar as garrafas de vinho que a gente tomava. Pintei várias ao longo da pandemia. Foi uma descoberta artística e que eu amo fazer.
Acabei leiloando algumas dessas garrafas, arrecadando dinheiro para Greenpeace e para comunidades indígenas. Até hoje eu presenteio as pessoas com essas garrafas de vinho. Virou uma marca minha. É algo que está ligado à arte, que é a minha profissão, e ao vinho, que agora é um novo segmento da minha vida – e que ao mesmo tempo um gosto pessoal, com um valor sentimental de família.
Como você imagina o futuro do seu projeto de vinhos?
Nosso desejo é que tudo dê certo na produção e que o vinho atinja a qualidade que esperamos. Temos a ideia de, com as próximas produções, a gente possa fazer um ambiente de experimentação e degustação lá no sítio mesmo onde as uvas estão plantadas. Mas, por enquanto, nós estamos somente com o produto. A colheita final será daqui a dois anos, então ainda temos um tempinho para preparar essa muda, pra ela estar bem e maravilhosa para o processo de vinificação.
Foto: André Nicolau
Styling: Marcell Maia
Beleza: Walter Lobato