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Entrevista com Adolfo Hurtado, enólogo da MontGras

Entrevista com Adolfo Hurtado, enólogo da MontGras

Com mais de duas décadas de experiência e paixão pelo vinho chileno, Adolfo Hurato é um dos grandes nomes por trás da MontGras, vinícola reconhecida por vinhos de alta qualidade que expressam o terroir chileno. Atual diretor de exportação da MontGras, Haroldo faz parte de uma equipe que compartilha a visão de transformar a vinícola em referência no cenário mundial. A MontGras foi fundada em 1993 e logo no ano seguinte plantou seus primeiros vinhedos no Vale de Colchagua. O sucesso não tardou a chegar: em 1994, seu Cabernet Sauvignon Reserva foi eleito o melhor Cabernet do Chile pelo Guia de Vinhos do Chile.

Desde então, a MontGras expandiu sua atuação, adquirindo vinhedos em diversas regiões do país e se tornando uma das vinícolas pioneiras na busca por certificações de viticultura sustentável, vegana e orgânica. Em 2017, com a contratação do enólogo Adolfo Hurtado, ex-Cono Sur, a vinícola iniciou o processo de “Refundação da MontGras”, que inclui uma revisão completa no manejo dos vinhedos, no processo de produção e na reformulação de seus rótulos. A consultoria do renomado enólogo Alberto Antonini reforça a qualidade e inovação presente em cada garrafa.

Adolfo Hurtado, que aos 27 anos já ocupava o cargo de enólogo-chefe da Cono Sur e se consolidou como gerente geral, trouxe para a MontGras a expertise que ajudou a tornar a Cono Sur a segunda maior exportadora de vinhos do Chile.

Entrevista com Adolfo Hurtado, enólogo da MontGras

Entrevista com Adolfo Hurtado, enólogo da MontGras
Thamy Laiz entrevistou com exclusividade Adolfo Hurtado, enólogo da MontGras

Durante sua passagem por São Paulo para promover os vinhos da MontGras, Adolfo Hurato, concedeu uma entrevista exclusiva à Thamy Laiz, colaboradora do Reserva85. 

Durante a conversa, Adolfo compartilhou suas experiências com a agricultura orgânica, abordando os desafios e benefícios desse tipo de cultivo, e revelou suas percepções sobre as novas tendências de consumo que estão moldando o mercado de vinhos.

Entre a MontGras e a Conosur você já trabalhou em cerca de 10 regiões do Chile. Qual região te encanta mais? Onde você sente mais prazer em trabalhar?
Essa é uma pergunta difícil, por isso vou dividir minha resposta em duas partes. Existem dois mundos para mim. No Cono Sur, minha variedade favorita é o Pinot Noir, então a região que tenho mais carinho é Casablanca. Já na MontGras, sou fã de Cabernet Sauvignon, especialmente do Alto Maipo, onde MontGras tem seus vinhedos Intriga.

É comum dizer que o Cabernet Sauvignon é a uva que representa o Chile. Essa afirmação ainda é válida hoje, ou outras variedades também se destacam?
O Chile é um país extenso, com uma diversidade de climas e terroirs. Começando no deserto do Atacama, uma região árida, até as zonas chuvosas do sul. Portanto, o país oferece condições para cultivar uma grande variedade de uvas: Sauvignon Blanc, Chardonnay, Cabernet Sauvignon, Carmenere, Syrah, Albariño, Riesling, Gewurztraminer, entre muitas outras.

No entanto, acredito que o Chile alcança sua excelência e se destaca mundialmente com a Cabernet Sauvignon, principalmente no Alto Maipo. Se pensarmos em uma variedade branca que representa o Chile, a Sauvignon Blanc seria a escolhida.

Como você enxerga a tendência mundial de produção de vinhos tintos mais frescos e leves, com menor extração e uso de madeira?
Olhando para a vertical do Intriga Máxima, um Cabernet Sauvignon excepcional produzido pela MontGras no Alto Maipo, podemos perceber essa evolução. A safra 2014, por exemplo, é um vinho com maior extração, teor alcoólico e uso de madeira. Ele representa muito bem o estilo de dez anos atrás, talvez um pouco “exagerado” para os padrões atuais.

A safra atual, por outro lado, já demonstra essa busca por um vinho mais fresco, elegante e complexo. Na MontGras, estamos adaptando nossas práticas para atender essa nova demanda: colhemos as uvas mais cedo, preservando a acidez e diminuindo o teor alcoólico, envelhecemos os vinhos por menos tempo em madeira e utilizamos menos barricas novas, optando por barricas de segundo e terceiro uso.

Essa mudança reflete a busca por um estilo mais leve e fresco, que acompanha a mudança de hábitos dos consumidores. As pessoas estão mais atentas à saúde, buscando alimentos e bebidas mais saudáveis, com menos calorias e álcool. Os vinhos estão se adaptando a esse novo estilo de vida.

O consumo de vinho branco está em ascensão. Qual a aposta da MontGras para essa categoria?
O mercado global está demandando cada vez mais vinhos brancos. Acredito que isso esteja ligado às novas tendências de consumo, com um estilo de vida mais leve e uma busca por bebidas com menor teor alcoólico.

A MontGras possui uma propriedade no Vale de Leyda, a apenas sete quilômetros do mar, uma das regiões mais frias e renomadas para a produção de vinhos brancos no Chile. Lá, cultivamos Sauvignon Blanc, Chardonnay, Albariño e variedades tintas de clima frio, como Pinot Noir e Syrah. A MontGras é um dos principais produtores do Vale de Leyda, com uma das maiores plantações da região. Nossa aposta em vinhos brancos é forte, e recentemente lançamos um blend com Viognier, Vermentino, Verdejo e Albariño, um vinho que representa a busca por inovação e frescor.

Como enólogo, como você avalia a influência da produção orgânica no perfil do vinho?
Trabalho com vinhos orgânicos há muitos anos. Na MontGras, quase 110 hectares de vinhedos são certificados como orgânicos. Muitas pessoas me perguntam se um vinho orgânico é melhor em termos de sabor e aroma do que um vinho convencional. A resposta é: diferente.

A influência não é direta, mas sim indireta. Os produtos químicos não alteram o sabor do vinho, mas na produção orgânica a videira perde vigor. Essa perda de vigor resulta em cachos e bagos menores, o que significa maior concentração na uva. Além disso, com menos vigor, o sol penetra mais facilmente na copa, engrossando a pele da uva. Essa pele mais grossa significa mais cor, taninos e concentração de sabor.

Dessa forma, eu diria que os vinhos orgânicos tendem a ser mais concentrados do que os vinhos convencionais. O stress da videira, que leva à perda de vigor, contribui para a concentração dos sabores.

Quais os principais desafios do cultivo orgânico e biodinâmico?
O principal desafio é aprender a produzir uvas sem o uso de produtos químicos e sintéticos. Esses produtos são ferramentas importantes para garantir a segurança das vinhas, mas na produção orgânica, eles são proibidos.

É preciso conhecer profundamente as vinhas e criar um ecossistema autossustentável, através da nutrição do solo, composto de inimigos naturais que combatem insetos e doenças. Deixar de lado a praticidade da agricultura convencional, onde você simplesmente aplica um produto para resolver um problema nutricional ou fitossanitário, exige um conhecimento profundo do vinhedo e uma capacidade de criar um sistema autossustentável. O desafio é conhecer o vinhedo para, que ele crie a sua própria fertilização e a sua própria autoimunidade.

Para finalizar, o que o vinho representa para você?
O vinho é parte fundamental da minha vida, assim como minha família. Eu vivo para minha família e para o vinho. Minha família sempre esteve ligada à agricultura e ao vinho. Minha filha também é enóloga. O vinho está presente no meu dia a dia, seja no trabalho, bebendo com amigos ou com a família. Não ter vinho é como se eu tivesse as pernas cortadas. Assim como Maradona disse “não corte minhas pernas”, eu digo: “não tire meu vinho”.

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