Vinhos naturais franceses enfrentam queda nas vendas
O mercado de vinhos naturais franceses, uma tendência que nos últimos anos cresceu exponencialmente, está agora passando por um momento de incerteza e desafios comerciais. Conforme relatado pela jornalista francesa Julie Reux, especialista no futuro do vinho orgânico, em uma matéria publicada no site Vitisphere, enólogos e produtores de vinho natural estão enfrentando dificuldades para escoar sua produção e manter o ritmo de crescimento visto anteriormente.
Na Alsácia, o enólogo Julien Albertus, da propriedade Kumpf & Meyer, comenta que, apesar de não estar em uma situação crítica, a falta de previsibilidade está gerando apreensão. “Há um ano estamos em uma situação tensa. Não sabemos o que vai funcionar, se é o preço ou outro fator”, compartilha Albertus. A situação é semelhante em Ardèche, onde Antonin Azzoni, outro viticultor, relatou que, após enviar vinte propostas de preços a profissionais do setor, não recebeu nenhum pedido. Atualmente, Azzoni tem 60 mil garrafas em estoque, muito acima das 25 mil habituais, em um mercado onde ele viu seu faturamento triplicar em uma década.
Essa queda nas vendas também é visível nas redes de vinhos naturais. No início deste ano, durante feiras como as de Angers e Montpellier, havia sinais de entusiasmo, mas a realidade está se mostrando diferente. “Todo mundo tem vinho para vender”, diz Albertus, um cenário que contrasta com os anos anteriores, quando a demanda superava a oferta.
Saturação do mercado de vinhos naturais franceses
O mercado de vinhos naturais experimentou um crescimento significativo nos últimos anos. Somente em Paris, o número de caves de vinhos aumentou de 500 para 700 desde a pandemia, como destacou Mikaël Lemasle, comerciante de vinhos da Crus et Découvertes. No entanto, essa expansão acelerada trouxe uma saturação de produtores e uma concorrência feroz, o que tem dificultado as vendas.
Fleur Godart, atacadista e agente de vinhos naturais, descreve um cenário de queda acentuada nas vendas desde setembro de 2022, atribuída ao aumento dos custos energéticos e à desaceleração da demanda. “Esperávamos um impulso com os eventos olímpicos, mas foi o contrário”, lamenta Godart, que, apesar de ter visto sua empresa crescer de 80 mil para 1 milhão de euros em oito anos, agora está à beira da falência.
Desafios para os vinhos naturais francês no mercado internacional
Exportações, tradicionalmente uma válvula de escape para os viticultores naturais, também estão em declínio. A Coreia do Sul, que antes representava um mercado em crescimento para Antonin Azzoni, reduziu significativamente suas compras. “Há três anos, havia uma demanda enorme. Hoje, esse mercado se dividiu por dez ou quinze”, afirma Azzoni. Da mesma forma, o Japão, historicamente um forte importador de vinhos naturais franceses, também está desacelerando, enquanto mercados europeus como Inglaterra, Holanda e Suécia se mostram cada vez mais complicados.
Nos Estados Unidos, embora o mercado continue sendo o maior para os vinhos naturais franceses, a concorrência está aumentando. “Estamos muito mais fortes hoje do que há dois anos”, comenta Zev Rovine, importador de vinhos naturais em Nova York. No entanto, ele observa que o aumento da oferta está levando a uma maior exigência dos consumidores, que se tornaram menos tolerantes a defeitos e mais atentos ao custo-benefício.
O futuro do vinho natural francês
Apesar dos desafios, os especialistas são unânimes em afirmar que o vinho natural ainda não está saindo de moda. “Haverá um antes e um depois”, afirma Julien Albertus, referindo-se às mudanças necessárias para sobreviver no mercado atual. Segundo ele, será necessário inovar e buscar formas mais diretas de comercializar o produto.
Essa fase de transição, marcada por um mercado mais competitivo e consumidores mais exigentes, indica que, embora o vinho natural continue a atrair entusiastas, os produtores precisarão adaptar suas estratégias para manter a sustentabilidade de seus negócios.