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Entrevista com Fernanda Zuccaro, proprietária da Quinta Alta

Entrevista com Fernanda Zuccaro, proprietária da Quinta Alta

A brasileira Fernanda Zuccaro trocou os corredores do congresso nacional pelas curvas do Douro. Fernanda é historiadora e atuou por 20 anos como marketeira política. Em 2017, resolveu largar tudo para se tornar uma produtora de vinhos no Douro e fundou a Quinta Alta.

Fernanda Zuccaro conversou com o RESERVA85 sobre essa empreitada e de como é ser uma mulher e brasileira produzindo vinhos em uma das mais tradicionais regiões vitivinícolas do mundo.

Como surgiu a ideia de deixar o marketing político para produzir vinho?
Quando as eleições de 2010 terminaram eu decidi que não era mais aquilo que eu queria fazer da vida. O que eu queria mesmo era fazer vinho. Eu tinha uma relação de consumidora, tinha feito alguns cursos sobre o tema, mas queria ir além. Foi quando comecei a pensar no conceito do projeto. 

Por que você escolheu o Douro?
Eu já conhecia a história do Douro e tinha percepção da sua grandiosidade. Quando estive em Portugal, senti que de alguma maneira eu pertencia ao Douro. Fui a diversas regiões vitivinícolas do mundo, mas eu sempre acabava voltando para o Douro. Não falo nem de Portugal, mas sim do Douro. Não tenho descendência portuguesa, mas me sentia parte daquela região. Eu me brinco que sou uma brasileira-duriense.

Como foi para uma mulher brasileira começar a produzir vinho no Douro?
O caminho não foi fácil e continua não sendo fácil. Mesmo trabalhando por 20 anos no congresso, eu nunca tive essa percepção do machismo e do preconceito como tenho lá. Mas graças a Deus é a minoria que tem a visão machista e misógina. Meus dois braços direito e esquerdo, o Nuno Moronha e Francisco Montenegro, são portugueses e nossa relação é de total respeito, não existe nenhuma questão de xenofobia ou machismo. 

Como o mercado portugues recebeu o seu projeto?
Foi muito gratificante a forma que Portugal recebeu o meu projeto. Desde quando cheguei eu tenho bom relacionamento com grandes produtores que estão sempre ali para me ajudar, como o senhor Dirk Niepoort, que me chama de menina. Ele fala “menina, como estão seus vinhos, precisa de alguma coisa?”. Minha experiência é muito positiva e eu me sinto abençoada.

Qual a maior dificuldade em produzir vinho?
Estar no Douro. O Douro é forjado em sangue, suor e lágrimas. Todo mundo que está lá tem garra e tira forças da natureza para continuar. A região é uma das mais belas do mundo, mas há uma vulnerabilidade muito grande da população, uma escassez muito profunda de pessoas. O Douro é desafiante e enigmático. Eu gosto de desafios, é isso que me faz estar no Douro.

Você acredita que toda essa dificuldade fará com que mais gente deixe o Douro?
Eu acho que o Douro é a região do futuro, em termos de qualidade e diferenciação dos vinhos. Na minha visão como produtora, vai haver um afunilamento e ficará quem tiver qualidade e valor agregado. No Douro não é possível fazer vinho a um preço baixo, pois as condições não permitem isso. Não há máquinas no Douro, são mãos que fazem o trabalho. Os produtores que não tiverem seus vinhos em uma faixa de preço coerente, não vão conseguir se manter lá. O vinho do Douro que está ganhando cada vez mais espaço e tem condição para brigar com os maiores vinhos do mundo.

Onde as suas vinhas estão localizadas?
As uvas tintas estão no Cima Corgo e as uvas para brancos e rosés estão no Baixo Corgo, que também é a zona onde eu vivo. Escolhi esses lugares porque atendiam às expectativas do estilo e do perfil do vinho que queria fazer e onde fosse possível cultivar as uvas que queria trabalhar.  

Qual o conceito da Quinta Alta?
Oferecer ao Brasil, Portugal e ao mundo vinhos que contam uma história de ousadia, uma história de brasilidade dentro da tradição do Douro. Sempre respeitando o estilo e o terroir do Douro. São essas características que moldam o conceito da Quinta Alta.

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