A verdade sobre o que é vinho

Vamos embarcar em uma jornada para descobrir a verdade sobre o que é vinho. A ideia aqui é entender o que o vinho representa, através de aspectos conceituais sobre esse universo. Afinal, saber sobre vinho vai muito além de decorar nomes difíceis. Saber sobre vinho é entender que o que ele representa na história da humanidade e na cultura de um povo.
Mas qual a verdade sobre o que é vinho?
Podemos simplificar, dizendo que vinho é uma bebida feita a partir da uva. Inclusive, se você quiser se ater apenas a parte técnica, neste artigo sobre o que é vinho você encontra essa explicação. No entanto, o vinho é muito mais complexo e profundo do que uma definição simples. Sua importância vai além do processo de produção, refletindo a relevância que ele possui em diversas culturas e tradições ao longo da história.
O vinho na história antiga
Um exemplo é que até as religiões têm suas próprias histórias sobre a criação do vinho. Os cristãos acreditam que foi Noé o inventor do vinho, como menciona o Gênesis 9:20-25. O vinho também tem uma relação profunda com a figura de Jesus Cristo, que, na Última Ceia, ao beber um cálice de vinho, declarou: “Este é o meu sangue”. Até hoje, o vinho segue sendo usado em cerimônias religiosas, especialmente nas missas.
Essa importância histórica não se limita à esfera religiosa, pois, ao longo do tempo, o vinho também passou a ter um papel essencial nas sociedades de diferentes épocas. No Império Romano, o vinho não era apenas uma bebida de celebração, mas uma questão de sobrevivência. Ele oferecia segurança e hidratação aos soldados e à população. Com a expansão do império, o vinho foi ganhando mais espaço e importância, ao ponto de, em algumas regiões, ser proibido para algumas classes sociais.
O que quero destacar aqui é que, em cada período da história, o vinho desempenhou um papel relevante, com significados e status variados.
A História do Vinho no Brasil
No Brasil, muitas pessoas acreditam que o vinho é algo recente, mas, na verdade, o vinho no Brasil tem uma longa história, que começa com os indígenas. Os povos originários já produziam uma bebida fermentada para seus rituais e cerimônias. Embora não utilizassem uvas – pois ainda não havia cultivo da fruta no território –, o processo era semelhante ao do vinho: a fermentação espontânea de frutas.
Com a chegada dos portugueses, em 1500, os indígenas foram proibidos de produzir qualquer tipo de bebida alcoólica. O álcool era utilizado pelos colonizadores como ferramenta de catequização e controle, e permitir que os nativos produzissem suas próprias bebidas ou poderia enfraquecer essa estratégia de dominação.
Os portugueses, por sua vez, já tinham o hábito de consumir vinho como parte da alimentação diária. Para garantir o abastecimento da bebida sem depender das importações, começaram a cultivar videiras no Brasil, dando início às primeiras plantações de uvas no país.
No entanto, em 1785, a rainha Dona Maria I, conhecida como “A Louca”, proibiu qualquer atividade manufatureira no Brasil para evitar a concorrência com os produtos portugueses. A partir dessa determinação, tornou-se obrigatório importar de Portugal diversos itens, incluindo o vinho. Com isso, o preço da bebida disparou, tornando-a acessível apenas à burguesia. Assim, o vinho, que antes era tratado como um produto agrícola essencial, passou a ser visto como um item de luxo.
A virada na história do vinho no Brasil aconteceu em meados do século XIX, com a chegada dos imigrantes italianos. Eles trouxeram o conceito de vinho como alimento, uma bebida simples que fazia parte do cotidiano. Esses imigrantes passaram a produzir vinhos no quintal de casa. Nesse momento, o vinho voltou a ter o status de alimento, mas carregava ainda mais significado: aconchego e sobrevivência. Era uma forma de sentirem-se conectados com a terra que haviam deixado para trás e, ao mesmo tempo, uma fonte de renda.
Muitas famílias tiravam seu sustento do cultivo de uva e produção de vinho e suco de uva. Foi assim o início da história de muitas vinícolas brasileiras, como a Vinícola Família Salton, que nasceu como uma casa de acolhimento para viajantes, onde a comida era sempre acompanhada por um cálice de vinho produzido pela família.
Naquela época, o vinho produzido no Brasil era o vinho de mesa, feito com uvas americanas, pois o cultivo das uvas europeias era muito caro e trabalhoso. As uvas americanas eram mais resistentes a pragas e proporcionavam maior produtividade. Era um vinho simples, mas elaborado para estar na mesa, acompanhando as refeições.
Porém, em 1990, o governo de Fernando Collor de Mello abriu o país para o mercado externo, facilitando a importação de bens de consumo, incluindo o vinho. O setor vitivinícola brasileiro não tinha estabilidade nem qualidade suficientes para competir com os vinhos importados, e a produção nacional despencou. Como consequência, o vinho voltou a ser um produto restrito à elite, deixando de ser acessível a grande parte da sociedade.
O vinho no Brasil nos dias de hoje
Devido à nossa história, o vinho ainda carrega um status de glamour e exclusividade. No entanto, essa percepção vem mudando, especialmente nos últimos anos. A pandemia desempenhou um papel significativo nesse processo, trazendo o vinho para dentro dos lares e mostrando que ele não é uma bebida reservada apenas para os mais ricos. Empresas como Evino e Wine ajudaram a democratizar o acesso ao vinho, tanto pela oferta de preços mais acessíveis quanto pela ampla distribuição.
Muitas pessoas que antes viam o vinho como algo distante agora o incorporam ao seu dia a dia, tornando-o parte de sua rotina. Esse é justamente o trabalho de muitos profissionais, como eu: resgatar a essência do vinho, torná-lo mais presente na vida dos brasileiros e consolidar seu papel na história do país.
A verdade sobre o que é vinho: Complexidade
Como mencionei antes, o vinho é uma bebida complexa, mas é justamente essa complexidade que o torna tão especial. E não me refiro apenas ao terroir ou aos aromas que podemos identificar em uma taça. Falo da complexidade histórica que o vinho carrega, impactando gerações de famílias viticultoras, produtores e, claro, a sociedade como um todo.
Para mim, entender de vinho não significa decorar todos os crus da Borgonha. Por isso que a verdade sobre o que é vinho significa reconhecer sua importância na história do nosso país, valorizar a tradição que sustentou — e ainda sustenta — tantas famílias, conhecer nossos próprios gostos e respeitar as preferências dos outros. Trata-se de enxergar o vinho em sua totalidade. Quando compreendemos isso, nossa relação com a bebida se torna mais natural e prazerosa, sem tantas regras ou formalidades, mas cheia de respeito.
E eu deixo uma reflexão: Para você, o que é vinho?